segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Profissão : ESPARTEIRO


Ainda hoje tenho saudades
dos tempos que já lá vão,
Gosto muito do artesanato
Por isso também sou artesão.

José Encarnação


-  Mas, afinal, o que é isso de Esparteiro, a?



Esparteiro (formado a partir de esparto + o sufixo - eiro)  é a pessoa que faz obras de esparto. Aquele, aquela, que trabalha manualmente o esparto, faz as seiras, capachos, vassouras ,cestos, etc. “Trabalhar o esparto” inclui não só o fabrico das peças, mas também a apanha e secagem.
Foi outrora uma profissão indispensável, sobretudo, por causa das seiras, sem elas os lagares não funcionavam e sem lagares a funcionar não havia azeite.
“Trabalhar”, ” tecer,” o esparto é também ser artesão. Esta designação é  mais vasta, mais larga, inclui todos os que exercem uma arte manual acentuadamente tradicional e popular. O artesão é um artista ,exerce uma arte. No nosso caso Esparteiro é na acepção popular, aquele que exerce a arte de trabalhar o esparto.
As belas peças que saem das suas mãos são artesanato.
Artesanato (de acordo com o dicionário ) é o conjunto de produtos ,de cunho acentuadamente tradicional ou popular resultante da actividade dos artesãos.

O artesanato na etnografia e folclore tradicional
Um bom trabalho do Rancho Folclórico das Mouriscas ( terra que também teve muitos esparteiros ) . Este grupo nas suas actuações apresenta algumas profissões tradicionais e começa precisamente com a referência ao Esparteiro.

L. Sérgio




segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Diz-me quem és.



Meu bisavô era artesão,
Meu pai também o foi,
Meu pai também o era
E eu também o sou
Com a minha profissão,
Sou o único na minha terra.

José da Encarnação



José Mendes Martins, nome oficial, nome de BI, mais conhecido desde novo por JOSÉ DA ENCARNAÇÃO, para se distinguir de um primo com o mesmo nome ficou o “Zé da Encarnação”. Nome de guerra e “ adoptado” para todas as circunstâncias. O seu pai, o seu avô e bisavó também foram esparteiros.  Desde menino que sobe à Serra da Gardunha para colher o esparto. Conhece-a como poucos. Lê e escreve bem, completou a 4ª classe num tempo em que poucos o conseguiam. No ano em que fez exame foi distinguido como o melhor aluno da escola. De nada lhe valeu …os tempos eram duros. As condições económicas sociais e culturais de um Portugal arcaico e obscurantista , sobretudo, nos meios rurais determinaram a permanência na aldeia. Avançar nos estudos era coisa de alguns (poucos) privilegiados. “ Ganharás o pão com o suor do teu rosto”, foi esta a sua sina. Ganhou o pão e ganhou a vida. Dedicou-se durante muitos anos à agricultura e ao comércio de frutas, durante alguns anos “abandonou” o esparto, “não dava para viver só disso”. Foi fazendo umas incursões na arte sempre que podia, abraçou-a de novo com a reforma, que coincidiu com um período em que se deu mais alguma atenção ao artesanato. Por esta época, “O artesanato voltou ao cimo da terra”, como disse, em entrevista ao Jornal do Fundão, realizada por Nuno Francisco e publicada em, 10 /12/de 2004.Continua com uma memória invejável, cita facilmente factos da história de Portugal. Bom comunicador, entusiasma-se e transpira alegria quando fala da sua arte. “ Na vida não se pode parar”, diz. O lado literário e artístico “ que se perdeu”, estão bem visíveis no modo como encara a sua arte, e na sua “alma de versejador popular”, como refere Ana Rodrigues no excelente trabalho realizado para o Urbi et Orbi. 
Atento ao que se passa no mundo, nada lhe escapa. Desenvolto nas mãos e nas palavras, apesar dos contratempos, continua a surpreender-nos pela resistência e entusiasmo postos na dedicação à vida e, em especial à sua arte. Por isso, não é surpresa que, mais uma vez, neste Verão, subisse à Serra para retirar da natureza o esparto com que trabalhará nos tempos mais próximos.” Aquele ar (da serra) faz-me falta e faz-me bem”, Diz. Adora a terra que o viu nascer, aliás, nos últimos anos, pela sua presença em feiras, jornais, rádios e televisão tem sido um dos maiores embaixadores de Alcongosta e do Fundão. Com 87 anos feitos em Março, o último dos esparteiros, é um exemplo de vida.



L. Sérgio

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Porquê SEIRA ?

Há quem goste muito de artesanato
Outros não lhe dão valor,
Cada um é o que é
Nem só se pode ser doutor.

José da Encarnação


Que pretendemos com SEIRA? Ou melhor, quais são os nossos objectivos? Porquê SEIRA?


Com este blogue é nossa intenção, sobretudo, divulgar o trabalho de esparto realizado pelo esparteiro José Da Encarnação de Alcongosta: sistematizar e mostrar a importância histórica e cultural desta arte em vias de desaparecer. Na verdade, nos últimos anos realizaram-se bons trabalhos / estudos sobre este homem e a sua arte, até no estrangeiro, mas, a grande maioria, são documentos dispersos ou inacessíveis ao grande público, como sejam os trabalhos académicos. Acompanhando o artesão numa das últimas feiras em que participou, constatámos que muito do público que se acercava da banca não fazia a mínima ideia da utilidade das peças produzidas nem do seu valor histórico e cultural. Pretendemos  dar um modesto contributo para o esclarecimento e compreensão da arte de trabalhar o esparto por parte do grande público.



Ficamos abertos, aliás, agradecemos antecipadamente a colaboração de todos os que se interessam por esta arte e, que de alguma forma, queiram colaborar enriquecendo o blogue: enviando sugestões, textos, fotografias, vídeos, gravações, etc., etc.
Porquê SEIRA.
Seira (Grande saco ou cesto de esparto, em forma de uma roda, utilizada nos lagares de azeite, em que se deitava a azeitona moída para espremer). É a mais emblemática das peças que saem das mãos do artista, a mais bela talvez, a mais importante do ponto de vista histórico e cultural e a mais difícil de fazer. Mesmo nos tempos em que havia mais de uma centena de esparteiros em Alcongosta , poucos conseguiam terminá-la.  Por isso, escolhemo-la como símbolo e nome de blogue.
Façam o favor de nos ajudar a  encordoar esta SEIRA. Divulguem-na e participem.
Bem Hajam!

Luís Sérgio